DEMOKRISIS

A CRISE DA DEMOCRACIA

Tuesday, March 01, 2005

SILÊNCIOS DE OURO; RUÍDOS A PESO DE OURO

Há silêncios de ouro; há ruídos que não valem nada, mas rendem muito ouro. No primeiro caso, temos, nestes últimos dias, o silêncio dos políticos, a começar pelo do indigitado 1.º ministro. Não há nada que faça tão mal à política como o ruído de fundo dos políticos. Enquanto que o silêncio pode significar reflexão, ponderação, noção das responsabilidades, vontade firme de acertar. E bem precisamos que se acerte, para que o país se conserte.
No segundo caso, temos o barulho ensurdecedor dos U2. Parece que vêm cá fazer barulho em 14 de Agosto. Pois, a seis meses de distância, já começaram a render milhões. Pessoas que durante 48 horas se postaram nas bilheteiras das bombas gasolineiras, a arrostarem com um frio de rachar, só para pagarem bem caro a possibilidade de serem atordoados daqui a seis meses, durante duas horas.
E quer este mundo viver em paz e sossego, quando há quem passe as passas do algarve e rijos frios nocturnos para comprar barulhos ensurdecedores e perturbadores dos já atrofiados neurónios!? Não lhes basta os decibéis com que, até lá, vão auscultar os tais ídolos barulhentos? Eles já sabem de cor e salteado os compassos ruidosos que irão escutar “ao vivo” (escrevo ao vivo e penso ”ao morto” ) lá para Agosto, mas o fanatismo tem destas coisas: faz rebentar bombas no médio oriente e ouvidos e mentes em Lisboa, em Agosto e não só. A presença fica desde já assegurada, comprada com sacrifício, com o corpo enregelado, para “garantir” o calor a uns milhares de almas alienadas por um “sábio” encadeamento de ruídos (a)musicais.
Os Mozarts, esses, continuarão a penar para sobreviver. É a vida? Não. É a morte. É a fuga ao silêncio dourado da reflexão, do pensamento, da acção responsável e empenhada no bem-estar colectivo. É a manipulação pelo ruído que a todos aflige e apouca, em detrimento da melodia e da harmonia na vida.

4 Comments:

  • At 2:42 PM , Anonymous Anonymous said...

    Há angústias nos silêncios que se arrastam em demasia e que podem criar expectativas demasiadas, nocivas aos sonhos daqueles que nada têm e muito esperam e há a alucinante necessidade de transferir para um palco de hevay metal as frustrações destes filhos de um deus menor! As duas situações, são igualmente preocupantes! Espero que o silêncio acabe e que a alienação amaine! Maria Lagos

     
  • At 5:01 PM , Anonymous Anonymous said...

    Pois é....

    O homem contemporâneo, regra geral, já não está habituado aos silêncios de outrora e a estar consigo mesmo, de quando em vez, para poder meditar e conceber algo, fruto da criação do seu intelecto.

    O cidadão anónimo português é um bom exemplo disso mesmo. Na esteira do que escreveu José Gil, no seu Portugal, Hoje – O medo de Existir, o português tem vindo a afastar-se dos períodos de solidão voluntária, em que pode conceber aquilo que deveria ficar «inscrito» na alma mater lusitana, e que a distinguiria positivamente das demais nações, para depois se digladiar por aquilo que apenas lhe interessa – estar presente, no presente [esquecendo-se do que foi e do que alcançou e não cuidando daquilo que poderá ser capaz de ser e de «inscrever» no futuro].

    Não condenamos o trabalho dos U2, mas também não conseguimos compreender como é que pessoas que detém todas as suas faculdades mentais se permitem passar todo aquele tempo à espera de um simples, e caro, bilhete para o espectáculo (tanto tempo perdido, quando o poderiam ter utilizado em inúmeras outras actividades).

    Quanto aos silêncios de ouro, neste caso do nosso novo e rosado governo, será bom que os mesmos se destinem exactamente a procurar encontrar, com a reflexão necessária e sem que se olhe para os «compadrios» e «cunhas», as pessoas exactas que reúnam as capacidades, competências, respeito e exigência necessários para levar este país a bom porto.

    Temos dúvidas, muitas dúvidas, sempre o tivemos, talvez pelo facto de estarmos habituados a olhar um pouco mais demoradamente para trás, infelizmente ao contrário de grande maioria dos portugueses (hoje quase só sabem viver o presente).

    Mas, tal como no direito penal, devemos reger-nos pelo princípio in dubio pro reu, e esperar que a nova rosa que adorna quase integralmente a nossa pátria seja de uma nova estirpe e se tenha desenvolvido sem espinhos… para bem de Portugal.

    Gustavo de Almeida

     
  • At 6:03 AM , Blogger AnaP said...

    Bem, por acaso gosto de U2 e também gosto de Mozart. Não comprei bilhetes, porque não acho bem dar 54 euros (mínimo) para ver um concerto rock e também não é do meu feitio apanhar um frio de rachar para comprar bilhetes. Mas atentemos no nosso teatro nacional de s. carlos que vende os bilhetes para as óperas com meses e meses de antecedência a quem tem cartão da casa, deixando os outros desgraçados que apenas vêem a publicidade das ditas cujas já quase em cima do acontecimento e depois se querem bilhete, não há. É certo que quem os comprou não passou frio, mas pagou e bem por eles.

     
  • At 12:58 AM , Anonymous Anonymous said...

    A juventude que temos... ou a que merecemos!

    Não deixa de ser fascinante matéria de estudo comparar o vigor e a tenacidade posta na compra dos bilhetes dos U2 pela mesma geração de jovens cujos professores dizem que eles não lêem porque os livros são caros.
    Que, pelo menos até ao passado ano lectivo, tinha de abandonar as
    faculdades porque não podiam pagar as propinas.
    E cujos corpos e almas, segundo nos andam a garantir há anos psicólogos e pedagogos, ficariam
    profundamente traumatizados caso tenham de se esforçar pelo que quer que seja.
    Nem sei o que seria se tivessem de dormir ao relento a noite mais
    fria do ano para obterem, por exemplo, uma bolsa de estudo.

    Felizmente que foi para os U2.

    Assim ninguém se traumatizou.

    IN PUBLICO

     

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