DEMOKRISIS

A CRISE DA DEMOCRACIA

Thursday, March 10, 2005

A DEMOCRISE E OS LUCROS

A crise da democracia passa muito por aqui: pelos lucros e pela (não)distribuição dos lucros.
Acabo de dar uma volta ao quarteirão e de ler num dos placares publicitários que, quais cogumelos, surgem espontâneos (é da humidade, e o tempo vai seco, fará se chovesse!) em cada esquina: os lucros da Sonae subiram 68% em 2004.
Li e dei comigo, com os neurónios a tremer de indignação, a perguntar ao vento seco e frio que teima em passar: isto tudo à custa de quem e de quê? A favor de quem e de quê? Qual foi a percentagem do aumento dos salários de quem trabalha e produz? Qual a percentagem dos investimentos? E dos investimentos em quê e para quê? Quantas Sonaes (com este ou outro nome, que os nomes pouco importam quando são apenas rótulos mais ou menos enganadores para melhor venda de um qualquer veneno social) existem? E quais os seus lucros? E à custa de quem e de quê? E em proveito de quem e de quê?
Ninguém me respondeu. Nem uma destas perguntinhas inocentes mereceu resposta. O placar apenas falava nos lucros. Só eu me respondi, e fiquei triste, muito triste e preocupado. De vez em quando as Sonaes ameaçam fugir para a Suiça. Se calhar fogem apenas estes despudorados lucros, que se dão melhor com o ar impuro dos bancos alpinos. Mas, de vez em quando, ameaçam com a fuga. E nós trememos. Quando muito perguntamos (mas também ninguém nos responde): que patriotismo é este? Que gente é esta? E, se calhar (ou de certeza?) melhor seria que fossem as Sonaes, os Sonaes todos, e de uma vez por todas, a fugir mesmo, a afundarem-se nas neves e nos gelos suiços, mas antes de tal esmifranço. Sempre ficávamos menos pobres. Sempre ficaríamos com os 68% dos lucros que, num ano só, foram acumulados por uma só das Sonaes que por aí andam e proliferam, à custa dos baixos salários, das alienações que nos vão sendo impostas, das mais valias de muita gente.
Ou não será assim?
Só assim não seria, se agora, ao menos agora, conhecidos os lucros, estes fossem aplicados no bem-estar colectivo, estes fossem distribuídos por forma a diminuir as assimetrias sociais. Mas qual quê!? O mais certo é irem congelar para a Suíça ou engordar as contas bancárias dos costumados favorecidos.
E o p(ovo)?
O p(ovo) que gema.
E a clara?
A clara está cada vez mais escura.

2 Comments:

  • At 11:03 AM , Anonymous Anonymous said...

    É claro que o POVO vai continuar a gemer porque ninguém sabe tirar coelhos da cartola e o grande capital não está aqui para se distrair!

    Ana Catarina

     
  • At 9:46 AM , Anonymous Anonymous said...

    Óh Moa, p'ra Suíça não. Diz p'ra essa gente da Sonae e outras Sonaes do Burgo que os Bancos Suíços já não lavam tão branco como antigamente. Não sei se é um problema de sabão ou o OMO das nossas avós está falcificado mas branco na Suíça só a neve.
    Um abraço

    Suor do Xisto

     

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