DEMOKRISIS

A CRISE DA DEMOCRACIA

Sunday, November 06, 2005

Tempos de pensar e de olhar a grandeza do mar...

SEM NOBREZA

Tenho da política e dos políticos que a professam com um sentido de missão, de profissão, um alto conceito. Entregar-se, por toda a vida, oferecer toda a vida, colocar a vida inteira ao serviço da polis, da civitas, dos cidadãos, dos povos, sempre constituiu para mim motivo de profunda admiração e reconhecimento. A política é um serviço e uma arte plenos de nobreza e exaltação.
Os políticos que à política se dedicam com entusiasmo e espírito de solidária actividade são os verdadeiros heróis dos tempos modernos. Daí que haja tão poucos bons políticos.
Como tudo o que é nobre, a política exige dedicação permanente, amor eterno, paixão, lucidez, sensibilidade, lealdade, frontalidade, raça e nobreza por parte de quem a serve. A política implica denodo e investimento, profissionalismo e entusiasmo.
Por isso, abomino a politiquice e os politiqueiros que da política se servem, seja para ganhar a vidinha, seja para enaltecer o seu ego.
Os “políticos” que o são apenas quando lhes dá na real gana, quando vislumbram à sua frente um tapete vermelho a indicar-lhes o caminho do trono cobiçado, que só investem pela certa, que desdenham da política e dos políticos, que se envergonham de ser o que já foram e pretendem voltar a ser – políticos – que se escudam, que actuam com um calculismo desmesurado, que se vangloriam de não ser políticos profissionais, que desdenham do que querem comprar, ou, melhor, do que pretendem lhes seja oferecido em bandeja de prata, que, manhosamente, se calam, que só falam quando lhes convém, que se envolvem em ridículos mistérios, que escarvam no chão com patas trôpegas, medrosas e matreiras, à espera do momento aprazado, para, traiçoeira e covardemente, marrarem, ferirem, ganharem a contenda, sem carácter, sem raça. Estes “políticos” fazem-me lembrar touros sem nobreza. Estes refugiam-se nas tábuas. Aqueles, no silêncio.
Os touros suspiram pelo curro; os políticos de ocasião, pelo seu tabu de estimação.
Como sabemos, a cornada mais sangrenta é a cornada do touro matreiro, é a cornada do touro sem nobreza.
Norberto MacedoLembranças de Outono

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