DEMOKRISIS

A CRISE DA DEMOCRACIA

Friday, October 07, 2005

Prof. Cavaco Silva

SEM PERFIL

Há dias, Mário Soares afirmou que Cavaco Silva não tinha perfil presidencial. Ia caindo o Carmo e a Trindade.
Dias depois, Manuel Alegre veio dizer que Cavaco Silva tinha perfil, sim senhor, embora o mais perfilado fosse ele próprio, por ser republicano, laico e socialista.
Cavaco Silva há muito que anda à procura do perfil presidencial e deve estar a sentir muitas dificuldades em encontrá-lo, daí o tabu sobre a sua propalada candidatura. Propalada pelos cavaquistas; silenciada pelo próprio.
Terá ou não Cavaco perfil presidencial?
Para Fernando Pessoa, mais importante do que tudo isto foi Jesus Cristo que não percebia nada de finanças. Ora, é sabido e consabido que se Cavaco Silva sabe alguma coisa é de finanças. Mesmo assim, mais na óptica dos financeiros do que na dos necessitados de financiamento.
Com estes poucos, limitados e tão específicos saberes, Cavaco Silva poderá ter algum perfil para Director-Geral das Finanças, para Secretário de Estado do Orçamento, vá lá para Ministro das Finanças (foi-o durante 180 dias no tempo do Primeiro Ministro Sá Carneiro, fez os jeitos que havia a fazer à política do Governo e logo meteu o rabinho entre as pernas e cavou, indo pregar para outra freguesia) e, no extremo, para Primeiro Ministro (como se sabe, foi primeiro ministro durante dez anos, para mal dos nossos pecados, que ainda hoje estamos todos a pagar as favas). Mas uma coisa é ter perfil para o Governo, a quem cabe “definir as linhas gerais da política governamental, bem como as da sua execução” (art.º 200.º, 1, alínea a) da CRP), pois que é “o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da Administração Pública” (art.º 182.º da CRP); outra coisa é possuir perfil para primeiro magistrado da nação, para Presidente da República, a quem cabe cumprir e fazer cumprir a Constituição, representar a República Portuguesa, garantir a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas (art.º 120 da CRP).
Pelo seu passado, Cavaco Silva manifesta um mau e enorme perfil económico-financeiro e uma falha incontornável no universo político e cultural. Com tanta falta de perfil e com uma tão acentuada e específica formação, como poderia Cavaco Silva representar condignamente a República Portuguesa? Com pendor para a intervenção unidimensional, toda ela virada para as matérias económico-financeiras (tarefa que cabe em exclusividade ao Governo), como poderia Cavaco Silva garantir o regular funcionamento das instituições democráticas, ele que, como primeiro ministro, via em qualquer autoridade pública (do Presidente da República ao Procurador-Geral da República) uma força de bloqueio, desde que ousasse discordar um pouco ou tão somente não concordar inteiramente com ele?
Se isto é ter perfil para Presidente da República Portuguesa, vou ali e não volto. Por vergonha.

Norberto MacedoLembranças de Outono

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