DEMOKRISIS

A CRISE DA DEMOCRACIA

Tuesday, June 14, 2005

Não à falta de democracia...

A DEMOCRACIA - OS REFERENDOS - AS ELITES

Ser democrata não é fácil e algumas vezes torna-se muito complicado. Estou numa destas encruzilhadas de que apenas não fujo, por respeito para comigo próprio e os restantes cidadãos do mundo, a começar pelos meus amigos leitores.
Enfrentemos, pois, as complicações, as aparentes contradições, as aparentes incongruências do pensamento de quem se tem por e afirma como democrata.
Defensor da democracia total – política, económica, social, cultural - não espantará a ninguém que eu defenda, em consonância com essa pretendida totalidade democrática (que me leva, que a todos deve levar, penso, a um constante aprofundamento da própria noção de democracia) para lá da democracia formal, da democracia representativa, a democracia participativa.
Falando de democracia participativa, pensando no conceito de democracia directa, salta-nos logo à ideia o raio do referendo.
Não tenho dúvidas que o referendo, num estado de cidadãos cultos, politizados, de recta intenção e ponderada acção, seria a forma de intervenção política, de manifestação da vontade popular mais consentânea com o sistema democrático.
Acontece que o povo, na sua maioria continua a ser inculto, impreparado, facilmente manipulado. Até lá, não nos resta senão confiar nas elites, naquele grupo que, pela sua cultura, pela sua preparação, possam constituir e actuar como a vanguarda de uma comunidade, pronta a servir e a descortinar o interesse público. A história mostra-nos que a humanidade deve muito da sua evolução política, económica, cultural, social, às elites.
Digo isto a contorcer-me todo por dentro, mas com a convicção de que assim foi e assim terá que ser ainda por um bom par de anos, senão mesmo de séculos.
Veio-me esta catilinária à ideia, por causa e a propósito dos referendos para aprovação (para reprovação, afinal) do tratado constitucional europeu.
Com o recurso ao referendo, cujos resultados em França e na Holanda contrariaram frontalmente o poder representativo, os órgãos de soberania dos respectivos países, temo que o projecto Europa-Unida tenha regredido para uma posição periclitante, atirando, na melhor das hipóteses,o desse sonho idealizado, para uma posiçao que contrariará frontalmente o poder representativo, atirando a concretização desse sonho para as calendas gregas.
Este temor (e já Alexandre O'Neil avisou que “o medo vai ter heróis”) é que me fez considerar o valor das elites na história. Se calhar, António Gedeão, não se referia a outra coisa, não pensava no povo em geral, mas nos homens de eleição, nos homens com capacidade de sonhar alto quando imaginou que “o sonho comanda a vida” e que “sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança, como bola colorida, entre as mãos de uma criança”.
Norberto MacedoLembranças de Outono

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